sexta-feira, 17 de maio de 2013

CPI vai investigar canteiros de obras


Deputados querem ouvir empresários e suspeitos de envolvimento na vinda ao DF de 80 bengaleses que chegaram ao país com a promessa de altos salários. Parlamentares visitarão obras que podem ter estrangeiros como trabalhadores
  
Por Kelly Almeida
Do Correio Braziliense 
  
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga o tráfico de pessoas pretende ouvir empresários e suspeitos de envolvimento na vinda de pelo menos 80 bengaleses ao Distrito Federal. Os representantes da CPI também vão visitar canteiros de obras que podem abrigar ou ter abrigado estrangeiros. A intenção de colher informações foi anunciada pelo presidente da comissão, Arnaldo Jordy (MD/PA), após a Operação Liberdade, deflagrada pela Polícia Federal, na quarta-feira, para descobrir como os estrangeiros chegaram ao país. Com a promessa de empregos e salários altos, os homens, de acordo com a investigação da PF, pagaram até US$ 12 mil, cada um, para sair de Bangladesh, na Ásia, e chegar até Samambaia.
 
O presidente da CPI ressalta que o caso descoberto pela PF apresenta características atípicas e deve ser apurado com muito rigor. Arnaldo Jordy detalha que estrangeiros de países vizinhos ao Brasil encontram mais facilidade para entrar no país, e que a vinda dos trabalhadores bengaleses chama atenção. “Não é um caso qualquer. A distância entre os dois países é muito grande e os custos são altos. É quase que inédito e precisamos apurar isso de perto para saber o que atraiu essas pessoas”, explica o deputado.
 
Segundo as investigações da Polícia Federal, agências de Bangladesh oferecem a viagem aos bengaleses com a falsa promessa de que aqui eles conseguirão empregos com salários de até US$ 1,5 mil. Ganhariam o dinheiro especialmente em frigoríficos ou na construção civil. “Vamos visitar os canteiros de obras em que eles poderiam estar trabalhando e ouvir as pessoas que intermediaram as viagens. Se tiver alguma implicação na área do poder público, vamos chamar os envolvidos para serem ouvidos. Se for na área privada, será do mesmo jeito”, garante Arnaldo Jordy.
 
As ações dos representantes da CPI do tráfico de pessoas só terão início quando a Polícia Federal encaminhar um relatório aos parlamentares. O deputado Arnaldo Jordy informou que isso deve acontecer até a próxima semana. Apesar de a comissão ter acenado interesse em acompanhar o caso, a PF ainda não comprovou que a situação configura tráfico internacional de pessoas. “Mas, para nós, essas pessoas foram aliciadas por alguma relação de vantagem ou promessa de vantagem. Elas não decidiram vir a Brasília de uma hora para a outra”, acrescenta o parlamentar.
 
Esquema
 
Desde maio do ano passado, investigadores da Polícia Federal acompanham a situação de pelo menos 80 bengaleses que vivem em Samambaia. Os homens chegavam a Brasília por várias rotas e eram recebidos por aliciadores que estariam pagando o aluguel da casa em que eles moram. Cada imóvel é ocupado por cerca de 10 imigrantes. Apesar da promessa de emprego, muitos dos estrangeiros estão desempregados. Para tentar libertar os homens de um possível esquema de trabalho escravo, na última quarta-feira, os policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em seis endereços da região.
 
O coordenador da Operação Liberdade, delegado Dennis Cali, explicou que ainda não é possível detectar os crimes de trabalho escravo e tráfico internacional de pessoas, já que os bengaleses não tiveram os documentos retidos e podem circular livremente, apesar de não terem interesse em voltar para o país de origem. O problema, segundo o delegado, é que os homens vêm com o sonho de conquistar um emprego bom, mas não conseguem e, por dificuldades culturais e de idioma, tornam-se dependentes financeiramente dos aliciadores.
 
Até agora, os investigadores configuraram os crimes de introdução ilegal de estrangeiro no Brasil e formação de quadrilha. Quatro pessoas que seriam as responsáveis por trazer os trabalhadores a Brasília foram identificadas pela PF. São todos de Bangladesh e, segundo a polícia, estão na condição de refugiados, assim como a maioria deles. A polícia chegou a pedir a prisão dos quatro suspeitos, mas a Justiça não autorizou.
 
 

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