Por Taciana Giesel
Do Portasl FalaMedico - Fenam
A situação do Hospital de Base do Distrito Federal impressionou os deputados que visitaram o local na manhã desta quarta-feira (11). Um grupo de trabalho formado por representantes das entidades médicas, em parceria com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados estão desde o ano passado visitando os principais hospitais brasileiros com o objetivo de averiguar os problemas existentes no setor, traçar diagnósticos e propor soluções nas urgências e emergências do país.
As visitas atendem a uma demanda da Federação Nacional dos Médicos (FENAM), da Associação Médica Brasileira (AMB), do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), do Conselho Federal de Medicina e da Associação de Usuários do Sistema de Saúde que querem mais atenção do Governo ao setor. “Nós estamos irmanados neste propósito. Temos visitado vários hospitais de urgência e emergência do país e temos debatido isso intensamente. Não temos nenhuma dificuldade de propor as ações necessárias e as ações judiciais cabíveis, mas entendemos que o parlamento tem uma responsabilidade muito grande, e que pode propor uma série de medidas e revisões legislativas,” destacou o presidente da FENAM, Cid Carvalhes.
Durante a vistoria, a comitiva encontrou inúmeros pacientes sem a atenção necessária. Superlotação, insuficiência de profissionais, falta de medicamentos, banheiros sujos e pacientes internados há dias, sem perspectiva de atendimento. Com uma capacidade para 94 pacientes no setor de urgência, o hospital atende em média 180 casos, chegando a atender 210 usuários em alguns dias. Conversas com pessoas internadas no hospital e seus acompanhantes retratam o caos do hospital.
Como o caso da dona de casa, Carmelita Maria de Jesus Santos, que acompanha o filho. Baleado, ele aguarda há 15 dias uma cirurgia para a retirada das balas. “Eles falam que antes da cirurgia tem que tomar um medicamento, que nunca chega,” relatou.
A paciente Ana Paula Pereira Barros, tem anemia falciforme e teve que pagar R$ 150 pelo exame de sangue em um laboratório particular. “Quer dizer, se eu não tenho dinheiro para fazer este exame, como faço?”
Profissionais da saúde também sofrem
O desgaste profissional também tem reflexos no atendimento. A média de atendimentos no Hospital de Base é de 180 pacientes. Para atende-los de forma eficiente seria necessário um profissional de saúde para cada quatro pacientes. Mas a realidade enfrentada é de dezoito pacientes para cada técnico de enfermagem. “Eu tenho 30 funcionários para 180 pacientes. A nossa equipe de enfermagem é ‘top’ de linha, muito bem preparada, mas como é que eles conseguem dar esta assistência adequada com este número de pacientes? Não tem como. Eles fazem um milagre, são heróis”, relatou a chefe de enfermagem, Fabiola Souza Goiabeira.
Em outra parte do corredor, um médico atende um paciente que deveria estar na UTI. Utilizando uma máquina de infusão quase sem bateria ele desabafa: “Me sinto frustrado, a situação está muito ruim, não há perspectiva de melhora. Nós estamos correndo riscos e precisamos de um suporte, porquê a situação está crítica.”
A deputada Erika Kokay (PT/DF) fez parte da comitiva que visitou o hospital e destacou a perseverança dos profissionais que trabalham nestas condições. “Você não pode ver este sofrimento e achar que é normal. E não é um sofrimento que atinge apenas os usuários, é um sofrimento que atinge os profissionais, que vivem com o sofrimento, se desdobram, são heróis e heroínas que tentam de toda sorte estar atendendo a contento.”
Falta gestão eficiente
A capital federal é a cidade que proporcionalmente ao número de habitantes tem o maior orçamento da América Latina. Para as entidades médicas e os parlamentares que percorreram o Hospital, muitos dos problemas estão associados à falta de uma gestão eficiente, como também destacou a deputada federal Erica Kokay (PT/DF). “Você tem uma série de problemas que estão concentrados na incapacidade de uma gestão eficiente, problemas que são referentes a falta de previsibilidade de planejamento e que poderiam ser sanados. Vamos fazer este relatório, apontando o que nós vimos, e chamaremos o secretário de Saúde do DF para que ele possa se explicar.”
O deputado Arnaldo Jordy (PPS/PA) fez um resumo do que encontrou ao final da visita. “Um caos total, o que nós vimos é a reprodução do que nós temos assistido no Brasil inteiro. Aqui de tudo você encontra um pouco, há uma demanda natural devido a insuficiência de profissionais e à carga de trabalho. Nós precisamos pedir a reforma do SUS.”
Diagnóstico e relatório
Esta não foi a primeira visita que os parlamentares fizeram. Hospitais do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia já foram vistoriados. Ainda faltam cinco hospitais em outras regiões para a conclusão dos trabalhos. A meta é terminar o roteiro até maio e realizar uma audiência pública para expor o diagnóstico das urgências e emergências do país. O presidente da FENAM, Cid Carvalhaes, cobrou medidas mais enérgicas do parlamento. “Nós não temos política de estado definida para a saúde, precisamos de um controle social mais acirrado, financiamento adequado para o setor, Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos para os profissionais da saúde e salários condizentes para a responsabilidade que lidamos no dia-a-dia.”
Após as visitas, será encaminhado um relatório com sugestão de medidas para melhorar o setor ao Conselho Nacional de Justiça, Ministério Público Federal, Ministério da Saúde e à presidência da Câmara dos Deputados.
Confira mais imagens da diligência aqui (Facebook) - http://trunc.it/ko9g2
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