segunda-feira, 9 de novembro de 2015

ARTIGO - País precisa de reformas estruturais para superar a crise

  
* Arnaldo Jordy
   
A cada momento, a democracia brasileira dá sinais de que está sendo interditada pelas contradições de um sistema de poder carcomido pela corrupção, incompetência e a necessidade de reformas estruturais para superar a crise na qual o país mergulhou. De um lado, as forças políticas que controlam o governo Dilma e boa parte do Congresso, de outro, a imensa maioria da população e os agentes econômicos, que sofrem as consequências dessa interdição que lançou o país, depois de mais de oito décadas, a uma recessão de dois anos consecutivos, chegando a 3% do PIB neste ano. E em consequência deixa 9,6 milhões de brasileiros desempregados, mais de 500 mil sem seguro-saúde, liquida médios e pequenos empreendimentos e sucateia a indústria nacional, dentre outros males.
  
Todos os diagnósticos sobre a situação da economia convergem para a tese de que o Estado brasileiro é anacrônico, ineficiente e perdulário e que a sociedade já não consegue sustentar um governo capaz de provocar só neste ano um déficit fiscal de R$ 117 bilhões, e pagar juros e serviços da dívida pública de mais de 450 bilhões para a agiotagem dos banqueiros. 
  
Nada indica, no entanto, que o que está grave não possa piorar. E por que não há mudanças de rumo como seria em qualquer outra situação, diante da demanda da sociedade? Acontece que além da fragilidade e incapacidade política da presidente Dilma, três motivos centrais são bastante nítidos: O primeiro é de ordem objetiva: ela é refém do sistema de forças políticas que a levou ao poder, notadamente o PMDB; o segundo é subjetivo: suas concepções voluntaristas e autoritárias, que nos trouxeram a esse estado de coisas, não mudaram; e o terceiro foi o imponderado, o 'Mensalão' e a 'Lava Jato' mergulham várias lideranças do seu partido, o PT, e do governo, nesse lamaçal de corrupção jamais visto antes na história brasileira, destituindo-a do mínimo de credibilidade para propor sacrifício ao país.
  
Só na Lava Jato, até agora, já são 62 parlamentares, ex-parlamentares, dirigentes de partidos, ministros e governadores. São 31 políticos do PP, 12 do PT, 12 do PMDB, dois do PSB, um do PSDB, um do PTB, um do Solidariedade e dois sem partido. 
  
E por que as forças políticas no Congresso, institucionais (governadores e prefeitos) e na sociedade, não são capazes de promover uma ruptura com tudo isso? Porque, dentre outros fatores, a democracia brasileira está bloqueada pelos grandes partidos. Todas as tentativas de mudança feitas no Congresso, sob pressão da opinião pública, para arejar e ampliar o sistema político, fracassaram. Esses grandes partidos no governo e na oposição temem o surgimento de uma alternativa de poder à margem deles, embora esteja evidente, pelas manifestações da sociedade, que isto só contribui para que mobilizações sejam fora do âmbito partidário. 
  
Duas décadas demonstram que a polarização PT/PSDB pode interessar às lideranças de ambos, mas já não é capaz de oferecer uma saída para o atual impasse. Com mais três anos de governo Dilma pela frente, a permanência e o agravamento da crise parece inevitável. Com o agravamento do quadro, o desenlace desse confronto é protagonizado por um partido coadjuvante dessa polarização, o PMDB, cuja missão é dar sustentação a quem está no poder e disso tirar o máximo de proveito, de forma fisiológica e patrimonialista. 
  
Tanto é que os presidentes da Câmara Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão na mira da operação Lava Jato, que desnudou a crise ética, apurando esquemas de corrupção montado na Petrobras para financiar o hegemonismo petista. 
  
A solução para o impasse e a interdição do processo democrático brasileiro longe está da simplificação, mas qualquer que seja a saída, ela só se dará com ampla participação da sociedade e da opinião pública mobilizada e atenta, pautada na renovação e em novos valores. 
  
* Arnaldo Jordy é deputado federal, vice-líder do PPS na Câmara
  

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