* Arnaldo Jordy
Em seu depoimento como denunciado em um dos cinco processos a que responde na operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a estratégia de negar tudo de que é acusado. Em mais uma tentativa de politizar o depoimento, afirmou que o que estava em julgamento era o seu "jeito de governar", para passar a ideia de que estaria sendo perseguido por agir em favor das camadas mais populares. Não é bem assim. Os governos de Lula e de sua sucessora, Dilma Rousseff, fizeram alguma distribuição de renda, por meio do programa Bolsa Família, mas também foram igualmente generosos com a banca, os agiotas internacionais, com o pagamento de juros da maior dívida pública da história. Seu jeito de governar quebrou o país e levou ao desemprego de 13 milhões de pessoas, o dado mais dramático da crise que vive hoje o Brasil.
A autodefesa de Lula diante do juiz Sérgio Moro, em seu depoimento em Curitiba, passa a ideia de que é perseguido porque nos 14 anos de seu projeto fez muito pela população, apesar dos escândalos de corrupção, uma ideia da qual um partido de esquerda deveria se envergonhar. A afirmação comum no anedotário político brasileiro de que há político que rouba, mas faz, sempre foi combatida pelo próprio PT, antes de chegar ao poder. Hoje, um total de 25 amigos ou aliados de Lula o denuncia à Justiça, entre eles, confidentes como o pecuarista José Carlos Bumlai e o publicitário João Santana. O ex-presidente já responde a cinco processos. Será que tudo é mentira? Ou uma conspiração, como questionou o juiz Moro?
O ex-presidente Lula também poderia alegar que seu "jeito de governar" deixou o país no caminho do crescimento e da justiça social, mas não foi isso que aconteceu. A dívida pública brasileira alcançou no ano passado mais de R$ 3,9 trilhões. O governo brasileiro gastou, em 2016, R$ 1,338 trilhão somente com o pagamento de juros e serviços. O desgaste começou no primeiro governo de Dilma Rousseff, quando o Brasil teve cinco trimestres consecutivos de encolhimento da economia.
Em 2015, o PIB brasileiro foi negativo em 3,8%, enquanto que no resto do mundo cresceu em média 4%. A inflação disparou com um "tarifaço" de energia elétrica que se seguiu à eleição de 2014. O desemprego disparou, o crédito acabou, os juros subiram, a população parou de comprar, a arrecadação caiu e o Brasil se viu na mais grave crise fiscal de sua história. A fragilidade da nossa economia acelera um processo de desindustrialização, diante da competição com países como a China, agravando a falta de empregos. Um déficit público de R$ 170 bilhões foi a herança desse período.
A população brasileira percebeu a gravidade da crise que se aproximava e foi às ruas em inúmeras ocasiões, pedindo o afastamento da presidente, cuja avaliação positiva despencou para apenas 8%. A crise nas contas públicas levou às "pedaladas". O governo ignorou a Lei de Responsabilidade Fiscal e editou decretos para créditos suplementares sem a autorização do Congresso. O desrespeito à lei levou ao impeachment. O Brasil, até agora, tenta superar a crise.
A política econômica dos governos petistas não teve norte, surfou no crescimento internacional durante o governo Lula, que fez alianças com grandes grupos econômicos, sobretudo as empreiteiras, das quais os governistas obtiveram vantagens pessoais. Lula chegou a se tornar uma espécie de garoto propaganda da Odebrecht no exterior, mas não fez qualquer reforma estrutural que garantisse sustentabilidade ao crescimento econômico, limitou-se a incentivar o consumo pela oferta de crédito e a conceder incentivos fiscais ao setor privado, numa típica bolha que estourou nos primeiros soluços de crise mundial. Enquanto outros países se recuperaram rapidamente, o Brasil ainda marca passo com as contas públicas em frangalhos.
E não adianta colocar a culpa no colo alheio. O atual governo precisa voltar a equilibrar as despesas e as receitas, ainda que isso não lhe renda muita popularidade. Mas o remédio amargo da racionalidade fiscal precisa ser aplicado. Apenas, não aceito que a população mais pobre e desprotegida seja a mais sacrificada, nem perca direitos que são essenciais. Aliás, é bom lembrar que o governo atual é fruto da escolha por duas vezes consecutivas das alianças feitas por Lula e Dilma.
Do outro lado, temos o juiz Sérgio Moro, que tenta fazer o certo, ou seja, que as leis sejam cumpridas. Ficou claro que Moro não persegue Lula, como alguns tentam fazer crer, para apresentar o ex-presidente com a imagem de vítima para uma eventual eleição em 2018. Moro é um exemplo de servidor público que faz o que tem que fazer, juntamente com o Ministério Público Federal e toda a força-tarefa da Lava Jato. Chega de tolerância com os crimes de corrupção, responsáveis por uma sangria estimada em mais de R$ 200 bilhões por ano. O juiz Sérgio Moro representa o combate à impunidade, uma causa que o Brasil tem a obrigação de abraçar e que outrora ja foi bandeira de luta de alguns que hoje estão vendo o Sol nascer quadrado. O que assistimos na tomada de depoimento de Lula por Moro, independentemente da paixões políticas, foi a afirmação do Estado democrático de direito, um ato que poderia ser rotineiro em um país que não aceita que haja alguns acima da lei, por mais poderosos que sejam. O Brasil é Moro.
* Arnaldo Jordy é deputado federal, líder do PPS na Câmara
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