* Arnaldo Jordy
Em seu depoimento como denunciado em um dos cinco processos a que responde na operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a estratégia de negar tudo de que é acusado. Em mais uma tentativa de politizar o depoimento, afirmou que o que estava em julgamento era o seu "jeito de governar", para passar a ideia de que estaria sendo perseguido por agir em favor das camadas mais populares. Não é bem assim. Os governos de Lula e de sua sucessora, Dilma Rousseff, fizeram alguma distribuição de renda, por meio do programa Bolsa Família, mas também foram igualmente generosos com a banca, os agiotas internacionais, com o pagamento de juros da maior dívida pública da história. Seu jeito de governar quebrou o país e levou ao desemprego de 13 milhões de pessoas, o dado mais dramático da crise que vive hoje o Brasil.

O ex-presidente Lula também poderia alegar que seu "jeito de governar" deixou o país no caminho do crescimento e da justiça social, mas não foi isso que aconteceu. A dívida pública brasileira alcançou no ano passado mais de R$ 3,9 trilhões. O governo brasileiro gastou, em 2016, R$ 1,338 trilhão somente com o pagamento de juros e serviços. O desgaste começou no primeiro governo de Dilma Rousseff, quando o Brasil teve cinco trimestres consecutivos de encolhimento da economia.
Em 2015, o PIB brasileiro foi negativo em 3,8%, enquanto que no resto do mundo cresceu em média 4%. A inflação disparou com um "tarifaço" de energia elétrica que se seguiu à eleição de 2014. O desemprego disparou, o crédito acabou, os juros subiram, a população parou de comprar, a arrecadação caiu e o Brasil se viu na mais grave crise fiscal de sua história. A fragilidade da nossa economia acelera um processo de desindustrialização, diante da competição com países como a China, agravando a falta de empregos. Um déficit público de R$ 170 bilhões foi a herança desse período.
A população brasileira percebeu a gravidade da crise que se aproximava e foi às ruas em inúmeras ocasiões, pedindo o afastamento da presidente, cuja avaliação positiva despencou para apenas 8%. A crise nas contas públicas levou às "pedaladas". O governo ignorou a Lei de Responsabilidade Fiscal e editou decretos para créditos suplementares sem a autorização do Congresso. O desrespeito à lei levou ao impeachment. O Brasil, até agora, tenta superar a crise.
A política econômica dos governos petistas não teve norte, surfou no crescimento internacional durante o governo Lula, que fez alianças com grandes grupos econômicos, sobretudo as empreiteiras, das quais os governistas obtiveram vantagens pessoais. Lula chegou a se tornar uma espécie de garoto propaganda da Odebrecht no exterior, mas não fez qualquer reforma estrutural que garantisse sustentabilidade ao crescimento econômico, limitou-se a incentivar o consumo pela oferta de crédito e a conceder incentivos fiscais ao setor privado, numa típica bolha que estourou nos primeiros soluços de crise mundial. Enquanto outros países se recuperaram rapidamente, o Brasil ainda marca passo com as contas públicas em frangalhos.
E não adianta colocar a culpa no colo alheio. O atual governo precisa voltar a equilibrar as despesas e as receitas, ainda que isso não lhe renda muita popularidade. Mas o remédio amargo da racionalidade fiscal precisa ser aplicado. Apenas, não aceito que a população mais pobre e desprotegida seja a mais sacrificada, nem perca direitos que são essenciais. Aliás, é bom lembrar que o governo atual é fruto da escolha por duas vezes consecutivas das alianças feitas por Lula e Dilma.
Do outro lado, temos o juiz Sérgio Moro, que tenta fazer o certo, ou seja, que as leis sejam cumpridas. Ficou claro que Moro não persegue Lula, como alguns tentam fazer crer, para apresentar o ex-presidente com a imagem de vítima para uma eventual eleição em 2018. Moro é um exemplo de servidor público que faz o que tem que fazer, juntamente com o Ministério Público Federal e toda a força-tarefa da Lava Jato. Chega de tolerância com os crimes de corrupção, responsáveis por uma sangria estimada em mais de R$ 200 bilhões por ano. O juiz Sérgio Moro representa o combate à impunidade, uma causa que o Brasil tem a obrigação de abraçar e que outrora ja foi bandeira de luta de alguns que hoje estão vendo o Sol nascer quadrado. O que assistimos na tomada de depoimento de Lula por Moro, independentemente da paixões políticas, foi a afirmação do Estado democrático de direito, um ato que poderia ser rotineiro em um país que não aceita que haja alguns acima da lei, por mais poderosos que sejam. O Brasil é Moro.
* Arnaldo Jordy é deputado federal, líder do PPS na Câmara
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