sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

ARTIGO - Queremos Copa Verde sem discriminação

   
Arnaldo Jordy *
   
Estamos às vésperas do início de mais uma edição da Copa Verde, competição da Confederação Brasileira de Futebol que ganhou um significado especial desde que se tornou uma vitrine de ações voltadas para o meio ambiente e a sustentabilidade, ainda que a Conmebol, entidade que reúne as confederações dos países da América do Sul, tenha retirado o principal atrativo para os clubes em termos de competição, que era a vaga para a Copa Sul-Americana.
   
Para compensar, a CBF definiu que os vencedores da Copa Verde e da Copa do Nordeste entrarão direto nas oitavas de final da Copa do Brasil, direito que este ano coube ao Paysandu, campeão em 2016, e ao Santa Cruz, atual campeão da Copa do Nordeste. A atitude da Conmebol foi lamentável, pois mudou uma regra depois de decidida a competição.
   
Mas não vamos desistir da Copa Verde, que passa a ser considerada a primeira competição carbono zero do futebol mundial, a partir deste ano, com a ampliação das ações de sustentabilidade. Neste ponto, quero lembrar que tudo começou com uma ideia do jornalista de O Liberal Carlos Ferreira, que a apresentou a mim, durante uma audiência da Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados, em Belém, em 2015. Por que não dar significado ao verde da copa e transformá-la em uma vitrine para a sustentabilidade, chamando a atenção do mundo para a Amazônia e para o futebol da região?
    
Acrescentei outras sugestões à ideia de Carlos Ferreira e a levei ao secretário-geral da CBF, Walter Feldman, ele próprio um ambientalista, que ficou absolutamente empolgado com a ideia, executada já em 2016, com enorme sucesso. Este ano, o Ministério do Meio Ambiente assinou protocolo para apoiar as ações de preservação ambiental da competição, que terá a participação de 18 clubes das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil. Do Pará, além de Remo e Paysandu, o Águia de Marabá também está na competição. Participei da assinatura do protocolo de intenções com o Ministério do Meio Ambiente, a 15 de fevereiro, em Brasília, com o ministro Sarney Filho, Walter Feldman, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, e o vice-presidente da CBF, Antônio Nunes.
   
Em 2016, a troca de ingressos por garrafas pet, em máquinas instaladas em locais de grande circulação, resultou em 13 mil ingressos trocados por quase duas toneladas de garrafas pet, encaminhadas para quatro cooperativas ligadas ao Movimento Nacional de Catadores de Resíduos. A troca só não foi efetuada em Belém por causa da grande demanda por ingressos das torcidas de Remo e Paysandu, clubes que precisam da renda dos jogos em dinheiro. Nos Estados do Acre e do Amapá, a oportunidade incentivou a ida aos estádios e foi adotada também em outros Estados e competições.
   
Este ano, as ações de sustentabilidade serão ampliadas. Os ingressos serão fabricados em papel com dez tipos de sementes brasileiras, que poderá ser plantado para dar origem a novas plantas; serão produzidos para os jogos copos eco, com escudos dos clubes e identificação visual da Copa Verde, que poderá ser comprado e levado como recordação ou devolvido em troca do mesmo valor que foi pago por ele, reduzindo o uso de descartáveis de plástico nos estádios; a terceira novidade é o lixo zero nos locais de jogos e arredores. Tudo será separado para reciclagem com métodos de coleta seletiva, em ação inspirada na torcida japonesa, durante a Copa do Mundo no Brasil, que recolhia todos o lixo dos locais dos jogos. 
   
Encaminhamos à CBF pedido para que a Copa Verde deste ano homenageie o médico e ambientalista Camilo Vianna, um pioneiro na defesa do meio ambiente na Amazônia, por sua grande contribuição, ao longo da vida, para a difusão das ideias que agora defendemos na Copa Verde.
   
Outra iniciativa de 2016 mantida este ano, diante do inegável sucesso, é o concurso de redação para estudantes da rede pública, algo com poder para difundir a educação ambiental para as próximas gerações e consolidar a mudança de consciência que queremos. No ano passado, a estudante do ensino médio na Escola Estadual Justo Chermont, em Belém, Oziane Rebeca Miranda da Costa, de 15 anos, ganhou passagens aéreas para ir com um acompanhante a Brasília, assistir à final da Copa Verde entre Gama e Paysandu. A estudante de Manaus Samara Martins ganhou o mesmo prêmio. Ambas viveram a experiência de conhecer a capital federal e certamente ampliar seu entusiasmo com o conhecimento, única forma que um jovem pobre tem de dar um salto na vida.
   
Simbolicamente, o clube que vencer a Copa Verde receberá, além do troféu tradicional, um troféu vivo, que é uma muda de árvore a ser plantada pelo clube. O torcedor mais apaixonado por títulos e troféus se perguntará o que representa tudo isso, diante do que foi tirado do vencedor, que é a possibilidade de disputar uma competição internacional? E mais, a premiação pela Copa Verde é muito inferior à da Copa do Nordeste.
  
Os clubes participantes da Copa Verde vão ratear entre si R$ 810 mil, o que corresponde a apenas 4,4% do que será dividido entre os participantes da Copa do Nordeste: R$ 18,520 milhões. Isso é um absurdo, uma discriminação odiosa que precisa ser revista pela CBF, que deveria levar em conta que Remo e Paysandu estão entre os dez maiores públicos e rendas dos últimos dez anos, mesmo não estando na série A do Campeonato Brasileiro. 
    
Contra essa disparidade, estive na quarta-feira, 22, na sede da CBF no Rio de Janeiro, acompanhado do secretário-geral Walter Feldmann e do vice-presidente Antônio Carlos Nunes, para solicitar à CBF que a premiação da Copa Verde passe para R$ 1,8 milhão, o que representa 10% do valor destinado para a Copa do Nordeste, considerando que o futebol da Amazônia deveria ser tão prestigiado quanto o do Nordeste, pela força imensa da sua torcida. Além disso, os custos da prática do futebol no Norte são os maiores do Brasil. A Copa Verde valoriza o futebol da Amazônia, pois suas ações terão visibilidade até mesmo internacional, pois as ideias que são apresentadas através dela certamente serão copiadas por outros países. Para isso, precisamos ter paciência e persistência para alcançar o resultado esperado, mas não devemos aceitar discriminação.
   
  
* Arnaldo Jordy é deputado federal e líder da bancada do PPS na Câmara
   
  

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