terça-feira, 7 de agosto de 2012

Tráfico de pessoas no esporte transforma sonhos em pesadelos

 
Brasília/DF - “Estão transformando sonhos em pesadelos”, afirmou a jornalista Daisy Cristina da Silva Costa, que do interior do Pará, realiza há quatro anos uma investigação independente acerca de casos de tráfico de pessoas no país.
  
Daisy foi ouvida em audiência nesta terça-feira (7), pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Federal, que trata do Tráfico Humano no país, e onde revelou dados impactantes de como este tipo de crime, que flui livremente nos subterrâneos da sociedade, opera nos meios esportivos, salvaguardado pela inexistência de fiscalização.
  
A jornalista paraense, que trabalha na cidade de Santa Isabel (PA), disse aos parlamentares como as redes de aliciamento funcionam, principalmente no futebol, recrutando possíveis jogadores em localidades carentes de toda região Norte brasileira. “Eles (os aliciadores) conhecem a realidade das famílias - algumas com renda diária de menos 30 reais -, e não encontram dificuldades em vender esperança para pais e mães, que desejam um futuro melhor para seus filhos, mesmo que isso signifique deixá-los nas mãos de desconhecidos, que os levarão para outros Estados ou até mesmo outros países”, disse. Atletas de sucesso como Neymar ou Ganso, seriam citados pelos aliciadores como forma de conseguir convencer as famílias a deixarem seus filhos seguirem carreira sob sua proteção.
  
Em sua investigação, Daisy descobriu que há uma rede de escolinhas em pequenos clubes de futebol de interior, onde acontece um “intercâmbio” de jovens e adolescentes de vários Estados, cujo intenção é enviá-los para países da Europa e do Oriente Médio. “O principal objetivo é o lucro com as negociações e com o sucesso do atleta, mas nem sempre esta realidade se concretiza, ocorrendo por vezes o abandono do atleta no exterior, que por vezes tem que sobreviver em outras atividades, recorrendo inclusive à prostituição, até com mudança de sexo”, relatou a jornalista, citando casos ocorridos com dois adolescentes do Piauí e do Espírito Santo. Os aliciadores também teriam como alvo, as escolas e até grupos de igreja, onde há concentração de adolescentes.
 
De acordo com a jornalista, no futebol está a maior ocorrência dos casos de exploração e tráfico de pessoas, mas em outros esportes a prática também foi detectada, por conta do aliciamento de meninas para a ginástica olímpica ou grupos de danças folclóricas. Seu trabalho resultará em um documentário e um relatório, que será divulgado para a imprensa e autoridades.”É preciso que a sociedade dê mais atenção para este tipo de crime, que por medo, vergonha ou falta de conhecimento das vítimas, ocorre impunemente em todo o país”, finalizou a jovem jornalista, que já enfrenta perseguição de políticos e até de representantes da lei em sua região, por seu trabalho.
 
Daisy Costa ainda promove a exibição de filmes em escolas e palestras de esclarecimento sobre o tráfico de pessoas, para mulheres e pais de adolescentes, objetivando o alerta e a conscientização de possíveis vítimas das quadrilhas internacionais que faturam mais de 30 bilhões de dólares, segundo entidades de direitos humanos.
  
Segundo o deputado Arnaldo Jordy (PPS/PA), que preside a CPI, o ambiente esportivo tem sido alvo das quadrilhas especializadas em enviar garotos para o exterior e entre os Estados. “Este é um trabalho de cunho próprio realizado com um esforço muito grande e que reuniu denúncias concretas. O tráfico no meio esportivo é muito mais recorrente do que imaginamos”, afirmou o parlamentar, que incluirá o depoimento da jornalista no relatório que a Comissão preparará e que conterá sugestões para as autoridades, modo a aperfeiçoar o combate ao crime.
   
A CPI, instalada em abril na Câmara dos Deputados, tem como objetivo conscientizar, debater e propor formas de combate até mesmo novas Leis para a interrupção deste crime, que atinge cerca de 4 milhões de pessoas em todo planeta.
 
 
Assessoria de Comunicação
Gabinete Dep. Arnaldo Jordy
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