segunda-feira, 24 de outubro de 2016

ARTIGO - Fala, Cunha!

  
* Arnaldo Jordy
  
A prisão de Eduardo Cunha, considerado o segundo homem mais poderoso da República, há poucos meses atrás, faz bem ao Brasil, mas deixa parte da elite nacional sob tensão. No caso, mais de 50 políticos e cerca de 30 grandes empresários estão citados e investigados na Lava jato, inclusive vários nomes tradicionais da política, de diferentes partidos, incluindo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), e os ex-presidentes Luiz Inácio e Collor de Melo.
  
A ordem de prisão solicitada pelo Ministério Público Federal, que temia sua fuga para o exterior, já que possui passaporte italiano, foi decretada pelo juiz Sergio Moro, que já percebia a movimentação do ex-deputado, "embaraçando as investigações".
   
A tensão vai além dos arrolados na Lava Jato. Na Câmara dos Deputados, ontem, houve uma espécie de histeria coletiva, onde os aliados de Cunha, do Centrão, que o abandonaram quando da sua cassação e já se articulavam para fazer o sucessor de Rodrigo Maia (DEM/RJ), na presidência da casa, ficaram desnorteados com a possibilidade de serem citados por ele numa eventual delação. Reforçado pelo fato do mesmo já ter por diversas vezes ameaçado fazê-lo, aliás como fez o ex-líder do Senado, Delcídio Amaral.
   
Além disso, a prisão de Cunha tem um outro efeito político importante. É mais um golpe na desbotada tese de "golpe", bradada pelos defensores de Dilma. Ora, como pode, aquele que era considerado como o seu principal articulador, com a suposta conivência do Judiciário – leia-se o juiz Sergio Moro -, estar agora preso! 
  
A insistência na sustentação dessa narrativa falaciosa e já beirando o ridículo pelos petistas e seus aliados, ainda presente nas redes sociais, exigirá uma nova reflexão e argumentos esquemáticos programados por seus seguidores. Não faltam, inclusive, aqueles que chegam à patética e delirante alegação de dizer que a prisão de Eduardo Cunha é jogo combinado para justificar em seguida uma eventual prisão de Lula.
  
Eu, sinceramente espero que, na prisão, em seu cantinho solitário, Cunha reflita e cumpra a sua palavra quando afirmou, segundo o Estadão: "Preparem os capacetes porque vai chover canivete". Quanto mais o Brasil for passado a limpo, melhor para os brasileiros.
   
Para a sociedade, de forma geral, fica claro que ninguém está acima da Lei, mas também a de que muita coisa ainda tem de ser revelada. É sempre bom frisar que embora o impacto da Lava Jato seja grandioso e um exemplo de que é possível combater a impunidade, estamos longe de chegar ao fim da corrupção no Brasil, que circula ainda no submundo da política, das empresas e na cultura de nossa gente.
   
Apesar disso, contrariando análises mais simplistas, ou até cínicas, seu significado é enorme, pois demonstra de forma indiscutível que a sociedade brasileira vai se aperfeiçoando a partir da consolidação de suas instituições democráticas.
   
O parto de um novo Brasil é doloroso, mas vai se tornando irreversível e cada um deve fazer a sua parte. Muitos não aceitam que seus conceitos políticos estão ultrapassados. Sentem-se perseguidos, mas não percebem a velocidade do trem da História. O Brasil quer se modernizar, reduzir desigualdades e ultrapassar o patrimonialismo, que concede sempre um naco de poder aos amigos do rei.
  
  
* Arnaldo Jordy é deputado federal pelo PPS/PA
   
  

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