* Arnaldo Jordy
O Brasil inteiro acompanhou nesta segunda-feira, 12, o desfecho daquele que foi o mais longo processo de cassação de um deputado na Câmara Federal. O Brasil, sem dúvida tem motivos de sobra para comemorar a cassação de Eduardo Cunha (PMDB/RJ), pela esmagadora maioria de 450 votos a 10. Este resultado, tão expressivo, revela que os partidos ligados à sua base de articulação política, o “centrão”, lhe abandonaram ao perceberem que a casa tinha caído.
A presidência de Eduardo Cunha na Câmara, iniciada em fevereiro de 2015 representou a prevalência dos interesses pessoais e do enriquecimento ilícito. Liderando a expressiva bancada do PMDB, e conhecendo como poucos o regimento da Câmara e a pusilanimidade de parte dos deputados do chamado baixo clero, Cunha soube explorar as fragilidades das pessoas e do sistema político atual para acumular poder e submeter a agenda política e os interesses do Brasil aos seus interesses de sua delinquência compulsiva.
Cunha foi ousado e arrogante. Pensou que podia ser mais do que deveria. Subestimou a opinião pública que percebeu o jogo que estava sendo jogado. Mas ninguém se iluda que se não mudar a estrutura e as regras do sistema político que gerou esse mal, outros Cunhas poderão surgir.
O império de Cunha, que gabava-se de controlar 150 deputados, foi construído no mesmo modelo que consagrou a era lulopetista: o toma lá, da cá. Os aliados que ele cooptou foram seduzidos pelo trânsito que tinha com empresários dispostos a financiar campanhas, daí a sua oposição ao fim do financiamento empresarial das campanhas eleitorais e também pelo seu transito nos corredores palacianos.
Assim surgiu o “centrão”, um aglomerado partidário que menos representa posições políticas de centro ou moderadas – o que é normal em um ambiente plural e democrático – e mais aqueles que se dizem não ser nem de direita, nem de esquerda e nem de centro. Ou seja, são parlamentares que não se identificam com qualquer plataforma política identificável, nem representam alguma ideia ou proposta. Sua atuação restringe-se a aproveitar oportunidades para auferir maior ganho financeiro e de poder no mais curto tempo. Eduardo Cunha, soube se firmar e liderar esse grupo e perceber que ali estava a chance de galgar poder na hierarquia da República.
Eduardo Cunha não só faltou com a verdade em março de 2015, na CPI da Petrobras, ao negar que tinha contas no exterior, e por isso quebrou o decoro, motivo pelo qual foi cassado. À frente da Câmara, ele agiu como quem tudo pode. Negociava a aprovação de medidas provisórias de acordo com seus interesses pessoais e pecuniários, extorquia empresários para obter vantagens para si e para seu condomínio de empresas e parlamentares aliados.
Cunha ainda tentou de todo jeito usar a caneta para evitar a própria cassação, numa prática bem conhecida de comprar os votos e de consciências. Foi quando um grupo de cinco partidos que sempre fez oposição a ele, entrou com pedido de seu afastamento ao procurador geral da República, Rodrigo Janot. Esses partidos são o PPS, o PSOL, o PSDB, o PSB e a Rede. Janot acolheu o pedido e solicitou ao STF, seu afastamento imediato, no que foi atendido.
Agora que o fantasma de Cunha foi exorcizado, o que importa ao Brasil é saber desmontar o mecanismo que permitiu a eleição e empoderamento de gente tão desqualificada para a vida parlamentar. É imperioso reformular integralmente o sistema político que permite a representação plena no Congresso de mais de 32 partidos políticos, sem que isso represente um universo igual de ideologias ou plataformas políticas. O chamado “presidencialismo de coalisão”, tão proclamado por José Dirceu, além de uma aberração por conta da excessiva fragmentação política, transformou-se na prática em “presidencialismo de cooptação”, em que aliados são atraídos, não em razão de ideias e projetos de interesse público, e sim em ofertas de cargos e espaços nos governos e outras vantagens impublicáveis.
Portanto, ao festejar a grandiosa vitória da democracia e da Câmara com a cassação da nefasta figura de Cunha, o Brasil precisa de muito mais, na sua representação política e no sistema político eleitoral que o fez todo poderoso presidente da Câmara. Cunha foi-se, mas o nevoeiro continua.
*Arnaldo Jordy é deputado federal pelo PPS/PA
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