Leia o discurso do deputado Arnaldo Jordy (PPS/PA), na Tribuna da Câmara Federal, feito hoje (18), durante Sessão Solene em homenagem aos heróis da luta contra a discriminação racial, Abdias do Nascimento e Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar.
Assessoria de Comunicação
Gabinete Dep. Arnaldo Jordy
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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
Assisti recentemente ao filme "12 Anos de Escravidão”, de Steve Mc Queen, baseado em história real, que retrata a vida de um cavalheiro de nome Salomon Northup, nortista negro, livre e letrado, nos Estados Unidos nos anos de 1841, alguns anos da abolição oficial da escravatura.
A trama segue o respeitado homem em seu cotidiano com a família, até que, enganado por uma oferta de trabalho, ele é aprisionado e levado ao sul escravagista, ilegalmente. Começam então os 12 anos de agruras e de completa anulação de todos os seus direitos. Numa das falas do "dono" de Salomon retrato toda a dor de quem já foi escravizado “você me pertence, seu corpo, sua alma, você. Faço o que quiser com você”.
Utilizo a figura do filme, que demonstra os horrores do racismo, do escravagismo, lembrando aos presentes, nesta Sessão Solene, que no Brasil, casos de racismo são veiculados diariamente pela imprensa.
O luta contra a intolerância, contra a discriminação racial deve ser diária, de todos nós, que entendemos que vivemos numa sociedade democrática, onde todos tem os mesmos direitos e deveres, não existindo diferenças em virtude da cor da pele.
É lembrando da luta diária que temos que travar que me encontro aqui, representando o meu Partido, o Partido Popular Socialista que homenageio a luta desenvolvida por Abdias Nascimento e Francisco José do Nascimento “O Dragão do Mar”, heróis que foram na luta contra a discriminação racial no Brasil.
Francisco José do Nascimento, conhecido como Dragão-do-mar ou Chico da Matilde, homem humilde, líder jangadeiro, prático mor e abolicionista, participou ativamente no movimento abolicionista cearense.
O nome Dragão do Mar foi a expressão escolhida pelo escritor e jornalista Aluísio Azevedo para homenagear Francisco José. O nome “Chico da Matilde”, surgiu em referência à figura materna, já que órfão de pai, aos oito anos, foi trabalhar como “menino de recado” a bordo do vapor Tubarão. Desde cedo trabalhando no cotidiano das atividades portuárias, conheceu de perto a realidade de tráfico de escravos.
As ações de Francisco José do Nascimento em prol da libertação dos escravos começou no dia 30 de agosto de 1881, aos 42 anos, quando liderou a paralisação dos condutores de pequenas embarcações na zona portuária de Fortaleza, com a ordem para que nenhum jangadeiro ou trabalhador do mar transportasse escravos entre o molhe e os navios.
Por sua ação perdeu o cargo de segundo-prático que ocupava nas docas de Fortaleza. Logo após a demissão, os abolicionistas da “Sociedade Cearense Libertadora”, o convidaram para participar da entidade. O Estado do Ceará foi pioneiro na abolição da escravidão, em 1884, fato que tornou o estado conhecido como "Terra da Luz”.
Atendendo aos apelos do povo do Rio de Janeiro, o Imperador recebeu Francisco José do Nascimento e outros abolicionistas cearenses. A Sociedade Abolicionista, na ocasião os condecorou com a sua medalha. A fama do Dragão do Mar correu o Brasil e algumas cidades do mundo durante os quatro anos que separaram a libertação dos escravos no Ceará e o 13 de maio, quando os escravos se tornaram livres.
Em 1890, Francisco José do Nascimento recebeu a patente de major-ajudante da Guarda Nacional. Ele participou também do levante armado contra o chefe do governo no Ceará, Gal. Clarindo de Queirós e quando em 3 de janeiro de 1904, ele presenciou o Batalhão de Polícia atirar contra seus colegas de porto, os catraieiros, a mando do Governador. O Dragão do Mar condenou o alistamento forçado dos trabalhadores do porto à Marinha de Guerra. Depois desses fatos sua figura foi esquecida, sendo lembrado em 1914 quando de sua morte.
Símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão, foi homenageado pelo Governo do Ceará que deu seu nome para o Centro de Arte e Cultura do Estado, também teve seu nome colocado em escola pública estadual, no bairro de Mucuripe em Fortaleza – Escola de Ensino Médio Dragão do Mar, que foi fundada em 1955, com a missão de alfabetizar os filhos de pescadores que moravam na região. Em 23 de agosto de 2013, a Petrobras, através da Transpetro, lançou ao mar um petroleiro construído em Pernambuco, batizado de Dragão do Mar em homenagem a Chico.
Nosso outro homenageado, Abdias Nascimento, ativista e ícone da luta contra a discriminação racial, tem sua história envolvida com as raízes do movimento negro no Brasil e no mundo. Teve trajetória longa indo desde o movimento integralista, como poeta, ator (criou em 1944 o Teatro Experimental Negro), dramaturgo, pintor, escritor, pensador, ativista do movimento negro.
Abdias começou sua luta ainda como estudante, em 1936 foi preso por protestar contra a exigência de entrar em uma boate, na cidade de Franca, interior de São Paulo, pela porta dos fundos. Em 1947 criou o jornal o Quilombo. Durante a ditadura de 64 o ativista sofreu pressões e acabou se exilando nos Estados Unidos. Da volta do exílio em 1978, inseriu-se no mundo politico tendo sido deputado federal de 1983 a 1987 e senador de 1997 a 1999.
Em 2006, em São Paulo, criou o dia 20 de novembro como o “Dia Oficial da Consciência Negra”. Recebeu o título de Dr. Honoris causa da Universidade de Brasília, tendo sido professor benemérito da Universidade do Estado de Nova Iorque.
Abdias disse “Tenho a alma libertária e acho que herdei a força para brigar pelos direitos humanos e contra o racismo de minha mãe, que era brigona. O orgulho de ser afrodescendente vem inspirado no meu pai, mais tranquilo e de uma dignidade enorme”.
Homenageio estes lutadores, que colocaram suas vidas na luta contra a discriminação racial no país, homens que lutaram contra a intransigência que são ícones da luta a favor dos direitos humanos, das causas sociais.
Era o que tinha a dizer Sr. Presidente.
Deputado Arnaldo Jordy