* Arnaldo Jordy
Os brasileiros foram surpreendidos, no início desta semana, pela declaração do novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segóvia, de que a mala com R$ 500 mil em dinheiro com a qual o ex-deputado Rocha Loures foi filmado correndo em uma rua do centro de São Paulo, entregue por um emissário do empresário Joesley Batista, por si só não representa uma prova contra o presidente Michel Temer, alvo de dois pedidos de inquérito pela Procuradoria Geral da República.
Para Segóvia, o inquérito foi encerrado precocemente e a conclusão pela acusação de corrupção contra o presidente não restou provada, numa crítica à Procuradoria Geral da República, que estabeleceu o prazo. O novo diretor geral da PF deu a declaração polêmica durante sua cerimônia de posse, diante do próprio Temer, que fez questão de comparecer ao ato para o qual foi convidado por Segóvia, que se disse “lisonjeado” pela sua presença. Não poderia haver momento mais inoportuno para tal declaração do novo diretor da PF, que, segundo notícias, foi indicado ao cargo por José Sarney e Eliseu Padilha, ambos investigados na Lava Jato. Se uma mala cheia de dinheiro não representa “materialidade criminosa”, fica difícil saber o que representa.
As declarações de Segóvia pegaram mal em um momento em que, como foi previsto, a Lava Jato atinge nomes de outros grandes partidos além do PT e enfrenta resistências abertas e declaradas dentro do parlamento. A CPI da JBS hora em curso tentou, por exemplo, convocar procuradores ligados ao ex-PGR Rodrigo Janot para depor, numa clara tentativa de desacreditar as investigações contra o presidente Temer e membros da cúpula do PMDB na Câmara e no Senado.
Há uma tentativa de julgar não os criminosos desmascarados pela Lava Jato, mas os responsáveis pela investigação no Ministério Público Federal. Rodrigo Janot explicou que os atos da investigação foram feitos com autorização do Supremo e realizados por policiais federais, que fizeram um trabalho de excelência na coleta de provas. A celeridade da investigação não foi um defeito, mas uma qualidade.
É clara a tentativa de politizar a Lava Jato, como se fosse o interesse da investigação desacreditar este ou aquele grupo político. Quem faz isso age como se não soubesse o que fez nos verões passados. O ex-presidente Lula, em declarada campanha política à Presidência em 2018, tenta atrair a Lava Jato para o jogo, agindo como se fosse um perseguido político. Não é nada disso. O juiz Sérgio Moro faz um trabalho técnico, fundamentado em provas claras do tráfico de influência que Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff, praticaram com as grandes empreiteiras do país, que exerciam sua influência direta nas maiores estatais brasileiras.
Este é um momento em que a sociedade brasileira precisa apoiar a Lava Jato. Se alguém tem dúvida da urgência desse propósito, basta observar a situação do Rio de Janeiro, classificado pelo juiz Sérgio Moro como o mais acabado modelo de corrupção sistêmica já encontrado no país. Esta semana, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, seu antecessor e mais um deputado estadual foram presos na operação “Cadeia Velha”, suspeitos de receber propinas de R$ 500 milhões de empresas de ônibus.
O ex-governador por dois mandatos Sérgio Cabral está preso e três vezes condenado, com sentenças que somadas alcançam 72 anos de prisão. Se condenado em todas as acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, pertencimento a organização criminosa e evasão de divisas, as penas somadas podem chegar a até 300 anos. Esta semana, outros dois ex-governadores, Antony e Rosinha Garotinho, também foram presos, por crime eleitoral. O povo do Rio de Janeiro assiste a tudo isso perplexo, enquanto as contas públicas estão em frangalhos e o governador Pezão não consegue honrar o pagamento do funcionalismo. É isso que a corrupção é capaz de fazer com o estado brasileiro.
Nunca antes no Brasil figuras como Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Antônio Palocci, Geddel Vieira Lima, Eike Batista, Marcelo Odebrechet ou os irmãos Joesley e Wesley Batista cogitaram ir para a cadeia por corrupção. Por isso, é importante que a sociedade brasileira apoie a Lava Jato e exija a punição dos culpados.
* Arnaldo Jordy é deputado federal, líder do PPS na Câmara