terça-feira, 12 de janeiro de 2016

ARTIGO - Território marcado por desigualdades

  
Arnaldo Jordy
  
Nossa Santa Maria de Belém do Grão Pará completa 400 anos. É uma cidade que, como poucas, acolheu generosamente, ao longo do tempo, pessoas vindas de outros ares, mas que, com sua alma cabana, também soube reagir quando o brio de seu povo foi açoitado, há 181 anos.
  
Mas não basta, nesta data, apenas parabenizar uma cidade acolhedora e bela, com sua diversidade arquitetônica, com sua riquíssima culinária que nos proporciona cheiros e cores únicos, com expressivas manifestações culturais, com as belezas naturais que atraem tantos e encantam a todos que têm o privilégio de poder conviver com elas.
   
Belém vai muito além disto e ao refletirmos sobre o processo de sua construção, não podemos esquecer o esforço de milhões de anônimos que ao longo dos anos deram suas contribuições em cada pedacinho de nossa terra.
   
De lá para cá, muitas mudanças ocorreram. A população se multiplicou, as estruturas físicas, políticas e sociais da cidade passaram por profundas transformações.
  
Infelizmente, Belém não é uma cidade igual para todos. O grande desafio de hoje é a aplicação de políticas públicas, que garantam um conjunto de condições materiais, sociais e econômicas, sem as quais não se chega à dignidade de cada um, nem à dignidade da sociedade como um todo.
  
Questões como má distribuição de renda, ocupação das áreas alagadas, proliferação de favelas e de moradias sem as mínimas condições de habitação, têm que ser enfrentadas. O povo tem necessidade de educação e moradia dignas, saneamento básico, saúde eficaz, segurança e mobilidade urbana.
  
O conceito de sustentabilidade, ora em voga, longe de ser restrito ao equilíbrio do homem com o meio ambiente, deve ser visto como uma forma mais equilibrada e progressiva de qualidade de vida almejada por todos.
   
Nestes aspectos, não avançamos muito e só temos a lamentar a existência de um grande contingente populacional vivendo abaixo da linha da pobreza e o desconforto dessa gente em uma cidade descuidada. Sem dúvida, um contraste flagrante entre riqueza e miséria convivendo lado a lado, o que demonstra a existência entre nós ainda de um alto índice de desigualdade social, um dos maiores do país.
  
No início da década de 80, Belém possuía o 9º Produto Interno Bruto entre as capitais brasileiras. Hoje, ocupa a 14ª posição, abaixo de São Luís/MA e muito abaixo de Manaus/AM. É a 7ª capital mais violenta do Brasil, com 51,2 mortes para cada 100 mil habitantes. Tem a 2ª pior taxa de saneamento entre as capitais, com apenas 16,2 % da população assistida. Detém a 5ª pior taxa de Rendimento por Etapa Escolar, entre as capitais.
  
Em 2005, tínhamos uma, já sofrível, receita pública per capita de R$ 4,00, a quinta pior do país. Hoje, com o aumento da população e desafios mais complexos, temos os mesmos R$ 4,00 per capita, agravado com o aumento do custeio da máquina e a redução de investimentos, estando na 2ª pior posição dentre as capitais brasileiras.
  
A Saúde há muito está na UTI, e parece não haver compromisso e empenho para mudar este quadro. Total precariedade e insuficiência nos atendimentos de urgência e emergência, aliados à falta de condições mínimas adequadas aos profissionais da saúde, quadro esse exposto com destaque em noticiários nacionais. O abastecimento de água pela rede pública, por incrível que pareça, regrediu: em 1991 tínhamos 56% de habitantes servidos pela rede, e em 2013 apenas 53%.
  
Nossa cidade tem um quadro de mobilidade urbana caótico e um sistema de transporte público obsoleto e caro, com constantes e permanentes engarrafamentos, em qualquer hora do dia. O projeto do BRT é um desperdício de recursos públicos com erros primários de execução, mal planejado, causando danos ambientais e não apresentando as soluções necessárias para melhorar a vida do usuário.
  
Se nossos dirigentes e governantes, não assumirem suas responsabilidades e compromissos, que precisam ir além dos palanques eleitorais, não teremos muito o que comemorar, nem agora, nem no futuro.
  
Nosso povo de fibra, que luta, acredita e tem fé, merece respeito e o compromisso de se buscar construir dias melhores.
  
Apesar de tudo isto, parabéns querida Belém, amada pelo seu povo e tão cantada por nossos poetas como Edir Proença, Chico Senna, Ruy Barata, David Miguel, Waldemar Henrique e tantos outros que nos seus versos sublimam a tua beleza e o teu encanto.
  
   
*Arnaldo Jordy é deputado federal pelo PPS/PA
  
   

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